Acordei nessa madrugada de domingo
cerca de 3h30 (horário de verão de Fortaleza) sentindo um calor que considerava
absurdo. Precisei levantar, refrescar o corpo e a boca para conseguir voltar a
dormir. Quando eu poderia supor que, naquele exato instante, uma cidade
conhecida por seu clima agradável estaria tendo vidas consumidas pelo calor
mais implacável de todos: o fogo da negligência. Não é preciso que a perícia
seja finalizada para saber que tantas vidas assim não se vão sem levar consigo um
vestígio de descuido, que fica impregnado em seus familiares e amigos como se estes
ficassem com um pouco daquele cheiro de fumaça, aquela mesma fumaça que foi o derradeiro
e fatal suspiro de seus amados. Isso sim é absurdo, e a isso eu não consigo
denominar tragédia. Porque tragédia eu enxergo aquilo com o qual não tem como haver
prevenção, sob o qual não temos qualquer domínio. Isso que aconteceu em Santa
Maria é algo que palavra nenhuma saberá dizer. Por mais que se explique, não
haverá justificativas que sejam capazes de preencher esse enorme silêncio que
ficou. Os celulares uma hora deixarão de tocar, mas a vontade de ouvir
novamente aquela voz do outro lado da linha vai ficar. Os sonhos se foram junto
com todas essas vozes e ficou a dor daqueles que sabem que estes sonhos não
poderão ser realizados.
Aqui onde moro lá fora o sol está
aberto, escaldante, mas aqui dentro está tudo nublado, até chovendo. Aquela
chuva que não cai do céu. Aquela chuva que roga ao céu. Santa Maria, cidade denominada
como Coração do Rio Grande, saiba que hoje o meu transborda em pranto a dor de vocês.
Carolina
Braga, 27 de jan. de 13.