terça-feira, 20 de abril de 2010

Para os palpiteiros de plantão


Diz um ditado que se conselho fosse bom ninguém dava: vendia. É a velha e boa sabedoria popular falando mais uma vez com conhecimento de causa. Não, eu não sou nenhuma radical-extremista-esquerdista no que diz respeito a isso, mas confesso que sempre fico tensa quando alguém me solicita um desses, digamos, palpites. Bem como, frequentemente me vejo sem palavras, diante da falta de bom senso e outras coisas mais, quando um cristão (ou não) inventa de tirar da manga uma de suas filosofias de vida furada e jogar na minha cara. Detalhe: Sem nenhuma solicitação da pessoa que vos fala. Sei lá, acho essa uma questão demasiado complicada, que como todas as outras, a teoria difere consideravelmente da prática. Pois, a meu ver, é impossível conceber a vida nos moldes da mais brilhante (ou nem tanto assim) dissertação de mestrado, ou tese de doutorado, como queira. Cada qual sabe de si e se não sabe, não há mãe, amigo ou psiquiatra que possa fazer o trabalho.

Carolina Braga, 18 de abr. de 10.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Do que restou de nós
















Agora já não dói. Aquela sensação de sufocamento, como se meu peito estivesse sendo esmagado, passou. Sumiu como se a pressão que era sobre ele dispensado tivesse, enfim, resolvido deixá-lo respirar normalmente, tranquilamente. Posso sentir o ar circular em meus pulmões como o vento que dança com a folha de papel na calçada da minha casa. É tão mais simples simplesmente ser. É nesse momento que há de fato o nosso encontro e não quando nos enredamos em questionamentos e dialéticas céticas sobre aquilo que só é possível ser concebido quando vivido. Inspiro e expiro. E o que entra e sai de mim já não me causa dor, já não é mais insalubre ao que do nosso amor restou.

Carolina Braga, 16 de abr. de 10.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Nosso Estranho Amor




Ontem ouvi uma música de amor que me fez lembrar você. De todo o amor que te dei, de todo o amor que guardei. Me fez lembrar também todo o amor que recebi de você e de toda a dor que o teu desajeitado amor me causou. Você - melhor que ninguém - me ensinou como um amor pode doer. Você - como ninguém mais - me mostrou que existem sim amores que não podem ser concebidos na ação, mas apenas, restritamente e sempre no coração.
Foi estranho te ver esses dias. Foi estranho te ver e não poder te dar todo esse amor que aqui dentro permanece e que a despeito da escassez da chuva, floresce. Eu sei que foi estranho pra você também, pois te conheço tão bem que você sempre soube ser inútil qualquer tentativa de dissimulação, ainda que tantas vezes as tenha pra mim ensaiado. Você sabia. Eu sabia. Nós sabemos.
Eu não direi ‘nunca mais’. Tampouco direi ‘até mais’. Eu não direi mais nada. Palavras, para nós, já passaram do prazo de validade.

Carolina Braga, 15 de abr. de 10.

domingo, 4 de abril de 2010

A esperança que cai do infinito


















Chove lá fora e aqui dentro a temperatura está amena. Coração batendo em ritmo normal, pulsação idem, tudo na mais perfeita ordem.
Eu sempre gostei muito de chuva, e continuo gostando, – a cada dia mais. Há quem a considere um passaporte para a melancolia, para mim, ela é um convite para adentrarmos mais profundamente em nosso próprio universo, lugar do qual a maioria de nós raramente visita. (Daí a implicância com as inocentes gotas que do infinito caem).
Chuva; água que floresce, que limpa, que deságua sobre nossas casas e sobre nossas almas um pedacinho do mistério da vida que só é perceptível aos sentidos. Chuva, que faz renascer a esperança no coração de muitos que vivem sob os solos quase inférteis do nosso sertão. Ó Chuva, completa o teu ciclo e leva contigo toda a impureza desse chão.

Carolina Braga, 31 de mar de 10.