domingo, 31 de janeiro de 2010


Passos lá fora, vozes conhecidas, ruídos diversos, telefones que chamam por alguém que não é ela, simplesmente porque ela não está ali nem para telefones, nem para qualquer coisa parecida ou diferente disso. A porta fechada é um aviso subliminar que frequentemente é ignorado e desrespeitado. Dizem que ali é frio e escuro, dizem muitas coisas e ela só quer silêncio. Nada mais. Silêncio pra se ouvir, pra ouvir aquela voz baixa e que a acalma. É daquelas palavras que ela precisa, palavras que não podem ser ditas, sequer reproduzidas. Papel e caneta são suas melhores companhias. Sempre foram. Sempre serão. Nas linhas em que ensaia desenhar o formato de suas emoções, encontra-se mais dela do que muitos jamais saberão.Ela desistiu de ser entendida, desistiu de tentar entender porque não lhe entendiam, ela desistiu de quase tudo e agora, mais do que nunca, sua luta é por sua própria vida. Acho que ela precisava justamente disso, abrir mão de várias coisas, quase tudo, pra poder abraçar como se deve a si mesma.O barulho lá fora persiste e ela insiste em não desistir de ouvir a tal voz, a tal voz que diz o que ela precisa ouvir e que não pode sair de outro lugar que não seja aquele, lá dentro, lá fundo, lá onde ninguém pode segurar a sua mão. Lá onde ela só possui a sua própria companhia e, ironicamente, nunca se sente sozinha. Esse sempre foi seu esconderijo, seu abrigo, seu trunfo. Essa sempre foi sua saída pros momentos em que entrava numa fria. Esse sempre foi seu ponto de partida para a próxima cilada. Esse sempre foi o lugar para o qual voltou depois delas. E assim continua sendo. Por que muitas coisas mudaram lá fora e ali dentro, mas o desejo de que é pra este lugar que ela sempre irá voltar, esse permanece, intacto.

Carolina Braga, 27 de jan. de 10.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Ainda


É tanta coisa, sabe. Um tanto que vive a pesar de maneira quase insuportável, já que se ainda sigo, é por que ainda não chegou o meu limite. Coisas que eu jamais saberei dizer, marcas e palavras que jamais terei como apagar de mim, pois elas de alguma forma se entranharam pelos cantos mais recônditos de minha alma e se livrar de tudo isso, estranhamente significaria ficar vazia. Porque tudo o que é bom e ruim está tão misturado, que às vezes, fica difícil distinguir. Não sei se me sinto grata, não sei se digo que nada valeu a pena, eu simplesmente não sei. E a cada dia que passa esse saber se revela ainda mais minúsculo – como tantas coisas que ainda se encontram por aqui. Faz um tempo que desisti de entender, é que acho que você não sabe, mas estou tão cansada. Exaurida pra ser mais exata. Às vezes, chego a, por um instante, duvidar de que alguém ainda mora aqui. Penso no que poderia ser pior, penso no que poderia ser melhor e não consigo refletir com a menor clareza a respeito. Resultado? Não chego a nenhuma conclusão. Francamente, nem mesmo tenho a mais leve suspeita pra que direção me leva esses passos. Mas, de uma coisa ainda sei: esse coração que os guia, veio com defeito de fábrica.

Carolina Braga, 24 de jan. de 10.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Explorando o desconhecido



Eu sempre tive uma certa tendência ao saudosismo. Antes era demasiado custoso pra mim desapegar-me do que outrora me fizera feliz, talvez fosse medo de me jogar no desconhecido, medo de não saber encontrar uma nova maneira de sorrir novamente. Mas sentimentos, assim como os dias que passam, mudam de cor e de sabor. E muito do que já foi azul e doce, vi transformar-se em nublado e senti o gosto amargo. Ando descrente de muitas coisas e uma delas é essa tal eternidade de sentimentos e ideias, da qual as pessoas em geral não querem de nenhuma maneira se desacorrentar. E são exatamente essas correntes que as impedem de vivenciar aquilo que seus pés escolheram não explorar, por preferirem seguir pela velha, conhecida e, desnecessariamente, sofrida estrada. Há muito do que desejo alcançar, e é justamente por isso, que eu vou tua mão largar.


Carolina Braga, 15 de jan. de 10.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Essa tua incapacidade


Eu fui até lá porque eu precisava saber como seria, o que eu sentiria ao me deparar com tua verdade assim tão nua, tão cruelmente dura. Eu precisava ver para crer, sentir na pele para compreender que não importa o que eu dissese ou fizesse, nós habitávamos em mundos completamente distintos. Muitas vezes eu quis fazer parte do seu, eu quis até mais que isso, eu quis fazer parte do que existe em você de mais íntimo. Eu quis tanto sem nunca saber se um dia você desejou o mesmo. Não há empecilhos demográficos, físicos ou sociais entre nós, o que existe somente é tua profunda incapacidade de se deixar ser cuidado e amado por quem quer que seja. De nada adianta a minha vontade e empenho em ser para você o que um dia com os olhos marejados me pediu, se você simplesmente não possui a menor vocação pra ser feliz.

Carolina Braga, 12 de jan. de 10.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Você, inalcançável



Muitas coisas deixei de te dizer, por ter dúvidas quanto a sua vontade e disponibilidade de me ouvir. Muitas cartas não foram enviadas, pequenos mimos engavetados e você certamente jamais se dará conta disso. Eu nunca entendi o que você queria de mim, ou se de fato um dia desejou algo. Mesmo tendo realizado esforços sobre-humanos pra isso, eu sinto como se nunca tivesse sido capaz de te alcançar. Talvez tenha sido afoita demais em não perder sequer nenhum breve instante de nossos momentos, que sempre representaram tanto pra mim. Talvez eles não fossem suficientemente significativos pra ti. Por algumas vezes foi como se quase tivéssemos sido. Mas agora percebo, seus braços há algum tempo para mim até se abriram, o problema é que eles se esqueceram de os meus encontrar.

Carolina Braga, 11 de jan. de 10

sábado, 2 de janeiro de 2010

Começo


Mais um ano se inicia e nunca um ano teve tão cara de começo, como esse agora tem para mim. Pela primeira vez, ao avaliar tudo o que passou nesse ano que há pouco findou, eu não consigo vislumbrar sequer um aspecto negativo, nem lamentar qualquer coisa que seja. E a isto incluo pessoas, pois algumas delas são tão desprovidas de sentimento e verdade, que mais parecem isso mesmo: coisas.Tudo está tão ampla e profundamente claro para mim, que nem preciso de óculos e proximidade para enxergar. Tá aí, hoje há muito pouco do que desejo, de fato, proximidade. Às vezes, perder é ganhar, e, talvez, mais vezes do que possamos imaginar.Esse ano que acabou, levou consigo inúmeras concepções que, hoje, me parecem tão tolas quanto acreditar pura e simplesmente naquilo que sai da boca de qualquer pessoa. Graças aos céus, eu já não partilho dessa mesma ilusão comum a tantos. Quem quiser me causar convencimento a partir de então, terá que fazer uso de outra ferramenta de comunicação. (Que tal começar pelas ações?)Eu já não busco porquês, eu já não tento sequer entender. Perdi muito tempo com coisas do tipo e essa foi uma perda sem ganho.Eu já não imagino a realidade como eu gostaria que fosse, eu simplesmente a aceito e concebo exatamente como é. E mesmo sendo por vezes tão dura, já não dói como antes e me sinto mais leve - como nunca.Verdade universal: cada um só dá o que tem e alguns recebem o que não merecem. Mas acredite: tanto o ato de dar, quanto o de receber, começa e termina sempre em você. Não se exima dessa responsabilidade, isso é o que costuma causar aqueles estragos que você acredita serem inevitáveis.Seria bacana se esse ano fosse um ano feliz pra todo mundo, né?! Será?? Parece-me que tem gente que não tem muita vocação pra ser feliz e que nem a isso, de fato, almeja. Então, que cada um exerça seu livre-arbítrio com responsabilidade e leveza. É, acho que isso já tá bom tamanho.

Carolina Braga, 01 de jan. de 10