sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sobre essa minha curiosidade

Eu nasci curiosa. Não se trata de curiosidade da vida alheia, acerca de seus pequenos defeitos e tropeços. É curiosidade pelo o que é demasiado humano, verdadeiro. Curiosidade sobre o que move cada um. Essa curiosidade me aproxima de mim, de meus detalhes. Me aproxima do meu próximo, do mundo de sentimentos que nos tornam iguais, irmãos.
Essa curiosidade me levou desde muito cedo a mergulhar no universo dos livros, da música, do cinema e afins. Muito do que existe da vida aqui dentro (e fora) é ensaiado sob pretexto de arte e disfarce através dessas expressões artísticas. Talvez por isso fique estupefata ao ouvir alguém dizer que não é lá muito adepto de nenhuma dessas atividades por assim dizer. É quase como me dizer que não exercita o autoconhecimento, como me dizer que vive sem alimentar a alma e o coração. Essa é uma visão bastante pessoal, é fato. Mas note que esse texto está sendo escrito a partir da primeira pessoa.
Ler um bom livro pra mim é como ver a minha história contada através de palavras que foram desenhadas por outro ser humano que sente medo como eu, que sofre como eu, que sorri como eu. Ouvir uma música de beleza e sensibilidade é me perceber mais próxima do Deus que eu acredito. Ver um filme que fale da verdade que há em cada um de nós, é ver a minha vida em pequenas cenas, com as minhas falas pronunciadas por outras bocas com similar emoção. Viver? Ah, viver é experenciar tudo isso sem direito a ensaio, edição ou melhores momentos. É tudo isso. Tudo junto. É tudo.

Carolina Braga, 20 de abri. de 12.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sobre o que é meu (não seu)

Fico abobalhada com a falta de noção de algumas pessoas. Tanta gente falando do que não sabe, invadindo a vida dos outros como se fosse o quintal da sua casa. Isso sempre foi uma coisa que me impressionou enormemente: a capacidade que alguns têm de ser deselegante e desrespeitoso. E o que implicaria falta de elegância e respeito? São vários os exemplos e situações. Segue algumas dicas:

1. Forçar que o outro exponha detalhes pessoais de um problema ou trauma vivido.

2. Perguntar acerca de detalhes íntimos que envolvem inclusive outras pessoas.

3. Tentar usar o outro como realização de suas próprias fantasias, através de fofoca e/ou insinuações maledicentes. Dentre outros.

Considero a vida de uma pessoa extremamente pobre e desinteressante, a partir do momento que saber com quantas pessoas o seu vizinho dormiu, se torna uma informação tão importante como deveria ser algo que só diz respeito mesmo a você.

Ler um bom livro pra mim sim é algo interessante. E manter certos detalhes meus no privado também.

Carolina Braga, 11 de abr. de 12.

sábado, 7 de abril de 2012

Sobre aquilo que eu não pude te dizer

Há pouco mais de uma hora recebi uma notícia que já algum tempo esperava receber, ainda que se tratasse de algo que eu gostaria de nunca precisar lidar. Acontece que, querendo ou não, somos frutos das decisões que tomamos – ou nos isentamos de tomar.

Uma menina de pouca idade, bonita e cheia de vida tomou a sua última decisão e deixou para todos que desejávamos o seu bem, a saudade eterna como uma de suas maiores consequências. Pois é, às vezes as pessoas que nos amam são obrigadas a viver de maneira irremediável com o resultado de nossas escolhas. E isso é de doer mais do que eu possa dizer.

Não falava com N. há coisa de três anos e só o que consigo pensar é se realmente não poderia ter feito algo para ajudá-la lá atrás. Se ao invés de dizer: “Calma, respira, pensa no que é melhor pra você. Qualquer coisa eu estou aqui.” Se eu não deveria ter dito o que era claro: “ISSO NÃO É O MELHOR PRA VOCÊ. SAI DESSA!” Essa é uma coisa da qual eu nunca vou saber. Mas acabei de aprender através de uma pessoa da qual eu daria, meu Deus, eu daria tanto para poder abraçar novamente, o quão devastadora pode ser uma decisão errada. Tô (tentando) digerindo aqui o aprendizado sofrido do quanto uma escolha equivocada pode gerar outras mais. Sentindo-me completamente impotente, profundamente triste com a realidade de que N. não terá uma segunda chance, de que ela não poderá errar nunca mais – nem acertar. Deus, e o que eu faço com tudo isso? O que eu faço com esses sentimentos todos?

N., espero que você encontre a paz que em vida já não tinha.

Com imenso pesar e eterno carinho,


Carolina Braga, 7 de abr. de 12.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Minha primeira professora

Sou filha de uma mulher de fibra. Minha mãe tem tanta personalidade que não são raras as situações em que ela atropela quem está por perto. Tenho pensado o quanto sou parecida com ela. Por termos tanto em comum, volta e meia estamos duelando, ambas tentando a todo custo sobreviver ao espelho que a outra representa para si. Não é fácil se enxergar assim tão de perto. Mesmo naquilo que sou completamente diferente dela, vejo o quando a sua presença e o nosso laço fala (grita) também a essa parte de mim. Minha mãe me ensinou as lições mais importantes que aprendi, aquelas que nem todos os livros juntos da minha estante poderão um dia suspeitar. Estou sempre lutando contra aquilo que eu sei, ela mesma não concorda acerca de si. Lutando para não me influenciar e para tentar quem sabe, escrever na minha história uma página diferente que ela não conseguiu – ou não pode. Já em relação as marcas que ela me deixou e das quais hoje me orgulho, essas eu busco simplesmente honrar e fazer dos seus traços um sorriso mais largo, a meu modo, no máximo de tempo possível.
Dizem que o estudo é a maior herança que nossos pais podem nos deixar. Estou aqui para testemunhar que o estudo é sim um bem deveras valioso, porém que a educação excede e precede as paredes das salas de aula. Quem teve maior possibilidade de aprender foi aquele que teve as principais lições de sua vida ensinadas dentro de casa.

Carolina Braga, 02 de abr. de 12.

Fazendo a minha parte

Há pouco mais de três meses iniciei uma especialização em Educação Inclusiva e desde então tenho sido confrontada com a velha perguntinha mágica: “Por quê?”. É engraçado quando acontece uma situação assim, em que nos vemos tendo que formular uma justificativa para algo que é tão justificado para nós, que por essa razão nunca precisamos nos dar uma resposta. Dia desses me peguei respondendo pura e simplesmente: “Eu sempre quis fazer a diferença na vida das pessoas”. Isso pode soar piegas ou até mesmo arrogante, mas ocorre que esta é a única verdade.
Eu cresci com o sentimento de que não havia sentido estar aqui para fazer as mesmas coisas que eu via serem feitas e das quais não concordava. Pensava (e penso) que não há sentido na vida quando não há sentimento – pelas pessoas, de uma maneira geral. E para sentir as pessoas, é preciso antes enxergá-las. Pois a partir do momento que isso verdadeiramente acontece, é impossível olhar para trás ou para os lados, pois você já não é mais o mesmo, você já não faz mais parte do passado. Afinal,somos todos a somatória de vivências de pessoas que cruzaram nosso caminho e nos deixaram (ou nos levaram) algo. Trabalhar a Inclusão e a Educação é acreditar que essa soma pode (e deve) incluir todos os sem-número de pessoas distintas que possa vir a existir em nossa vida e que pode haversim sempre um resultado positivo para ambas as partes.
Eu não sei até que ponto eu poderei realizar isto, mas começar sabendo o nome do meu novo vizinho e porque ele não vai à escola, talvez esse seja um início.

Carolina Braga, 27 de mar.
de 12.