domingo, 19 de abril de 2015

Sobre família

Certa vez estava conversando com uma amiga sobre o dia do amigo e ela comentou que iria comemorá-lo com seu melhor amigo: seu namorado (hoje marido). Porém, comumente observo as pessoas falarem e tratarem seus cônjuges e cônjuges alheios como seres estranhos, ou simples agregados. Eles não são encaixados na categoria família, nem amigos. Talvez por isso seja tão simples e justificável a separação. Ué, não é meu amigo nem meu familiar, então posso simplesmente mandar a pessoa pastar sem maiores explicações.
Pergunto-me se as gerações anteriores tivessem pensado e agido da mesma maneira, se teríamos nós mesmos vivido dentro do que chamamos de família. Creio que não.
Definitivamente, não dá também para bancar uma relação com alguém que não sinta e pense certas coisas de um modo, no mínimo, semelhante. É gastar a emoção à toa e perder de vista outras possibilidades.

Em dias de justificativas sem-número para tanta falta de educação para com os nossos e falta de respeito para com geral, não se sujeitar à uma relação que te diminua já é uma mão na roda que faz o seu mundo girar e novas coisas acontecerem.

sábado, 18 de abril de 2015

Sobre o tempo...

Dizem que o tempo nos dá coisas, que ele nos faz amadurecer e que é um milagroso remédio para as feridas abertas no caminho.
Eu particularmente não acredito em nada disso. O tempo não nos dá coisa alguma, a não ser cabelos brancos e alguns quilos. O que ganhamos ao longo do caminho se deve às nossas escolhas assertivas tomadas no decorrer dos acontecimentos. Não importa o que nos aconteça, há sempre a possibilidade de escolher o bom e alimentar nossa vida disso. Sim, eu já fiz isso algumas centenas de vezes.
A prova de que o tempo por si só não traz amadurecimento a quem que seja pode ser facilmente comprovada, basta darmos uma boa olhada à nossa volta - e uma demorada e sincera passagem de olhos por dentro, em situações que escolhemos nos comportar como rebeldes sem causa ou crianças mimadas e perdemos a oportunidade de assumir a responsabilidade de nossos atos e autonomia de nossa vida.
O tempo não é nenhuma panaceia. Não é algo como aquele remédio que a nossa mãe nos receitava para todo e qualquer mal. O que cura nossas feridas é o amor e o respeito à quem somos, aos nossos sonhos, limites, sentimentos, essência. É também a escolha por modos de vida mais saudáveis, e isso inclui hábitos e pessoas. Escolhas não saudáveis sempre implicarão em resultados insalubres.
O imprevisto nos toca a todo momento. A vida daqueles que escolhemos para estar por perto também. Boas escolhas. Isso sim nos traz muito; quiçá, um novo mundo.


sábado, 4 de abril de 2015

Meu processo de ser gente

            A cada dia em meu processo de ser pessoa me dou conta do quanto é difícil ser gente de verdade, como costuma dizer o filósofo e cristão Fábio de Melo. Se pertencer, ser livre e experienciar o amor de Deus em tempos de valores tão rasteiros e relações tão superficiais e frágeis, revela-se constantemente como um desafio à nossa fé.
            Falamos tanto em amor e estamos frequentemente a praticar atos de covardia que professam o contrário. Falamos tanto em liberdade e nos prendemos demasiadamente aos julgamentos alheios e às superficialidades infinitas que nos afastam de quem somos de fato.
Não é fácil sobressair-se e não afundar em toda essa lama. Não é fácil porque às vezes as relações que possuímos e que deveriam ser justamente aquelas a nos devolver e nos promover, são exatamente aquelas que mais nos roubam e nos impedem de viver a nossa essência mais pura e verdadeira.
Se não tomamos cuidado, aqueles que mais amamos podem se tornar nossos maiores algozes – e o contrário também. Se não ficamos atentos, na intenção de ajudar podemos junto nos afundar. Se não nos afastamos um pouco vez ou outra, podemos em algum momento acabar cumprindo o papel de bode expiatório na vida daqueles que não capazes de assumir a responsabilidade de seus atos e nem de reconhecer a responsabilidade dos atos daqueles que ama. Se nos perdemos de vista, podemos chegar ao ponto de nos desculpar pelo tapa que recebemos, não por uma prática cristã, mas por termos vestido a carapuça de carregar as culpas e erros todos, como se isso fosse nobreza, ou mesmo amor.
Às vezes o tapa nem é de maldade. Às vezes o que excede é apenas a imaturidade para amar e viver a legitimidade do que sente e do que é. Porém, cada ser humano possui o seu processo, as suas escolhas, o seu tempo. Existem maridos que nunca amarão de maneira genuína suas esposas; existem mães que nunca serão capazes de promover a liberdade de seus filhos; existem pessoas que não são amigas nem de si e por isso são incapazes de estabelecer uma relação de amizade com quem quer que seja.
Esperar de alguém algo que essa pessoa não tem pra oferecer é um caminho curto e fácil para a decepção. Ser gente de verdade implica também em ser capaz de identificar situações e pessoas que estão obstaculizando porventura nosso processo de libertação e de dizer “não” à elas, sejam elas quem forem.

Não é fácil. Mas sem dúvida, pra mim este é o único caminho que vale a pena ser percorrido. Sei que a caminhada será por vezes solitária, mas como diz o ditado: melhor só do que mal acompanhado.