domingo, 19 de agosto de 2012

Sobre ser amigo

Relações de amor são as melhores, mas também as mais delicadas. E me refiro a todos os tipos de amor: filo, eros, amigo... A última costuma levar consigo uma responsabilidade que atribuímos a esta às vezes até sem perceber: aliviar o peso de nossas outras relações e de nossa própria alma e nunca, em nenhuma hipótese, ser peso ou motivo pra dor de cabeça. Como se o amigo fosse uma espécie de anjo, que além de estar aqui para olhar por nós é um ser divino e, portanto, no mínimo quase perfeito. Certa vez eu ouvi de uma pessoa que tinha o dobro da minha idade, que a decepção de um amigo era a mais doía porque era justamente aquela que não era esperada. Eu entendi instantaneamente o que ela queria dizer com aquilo. Mas isso não é um absurdo? Como assim uma pessoa que nunca irá nos decepcionar? A amizade é um grande presente do Cara lá de Cima, não há dúvidas, mas esperar que essa prerrogativa de perfeição divina se estenda a outro mero mortal como nós, já é pedir um pouquinho demais. Particularmente tenho amigos incríveis, os melhores que alguém poderia ter – e sim, eu sinto um imenso orgulho em poder dizer isso. Mas o que possui de mais bonito nessas relações é a abrangência do abraço que alcança as minhas, as nossas imperfeições, como se tudo fosse precioso, simplesmente porque faz parte do que somos. Amar alguém verdadeiramente, ser amigo, talvez seja justamente isso: fazer do outro a nossa casa em tempos de tempestade, mas sem esquecer jamais de reconhecer a sacralidade desse lar, sem esquecer jamais de bater antes de entrar e de tirar as sandálias ao nela adentrar. É ser colo, é ser às vezes até pai e mãe por alguns instantes, é ser família sem laço sanguíneo, é ser amor que ama e que por isso, perdoa e aceita, e recebe, e devolve. Simples assim? Está longe de ser simples. Mas com a prática a gente melhora e o esforço sempre vale a pena.

Carolina Braga, 20 de ago. de 12. 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre a casa que eu não visito mais

Há pouco a menção de um nome me fez relembrar alguém que não faz mais parte do meu presente e que, no entanto, faz mais parte do que sou do que eu poderia mensurar. Fico maravilhada com essa coisa que faz o tempo parecer pequeno e inexistente, um mero coadjuvante numa história que está acima até dele mesmo. Essa coisa que pode ter várias denominações e diferentes sentidos, mas que nos leva sempre para a mesma direção: nós mesmos. Porque quem entra de fato pra modificar a nossa vida (pra melhor), mesmo que vá embora ainda assim acaba por ficar; seja através de algo que você aprendeu e achou que nunca fosse aprender, seja através de uma lembrança única e especial que não pode ser repartida com ninguém mais, seja através de uma forma de falar que você não consegue reproduzir com mais ninguém. Porque de alguma maneira, essa pessoa fez uma diferença tão bonita e significativa em sua vida, que nada poderá ser igual, nada nem ninguém. Porque de alguma maneira, essa pessoa se tornou um lugar, uma casa para onde você poderia sempre voltar e ser quem é de um jeito que você só sabe ser quando está lá. Há um tempo eu fechei a porta dessa casa a que me refiro no momento e confesso que não me recordo de ter cometido uma atitude tão estúpida e infantil como esta. A verdade é que não me recordo de ter fechado algum dia uma porta que me levasse de volta para mim. Talvez um dia desses, quem sabe, eu passe em frente a essa mesma casa e a encontre com as janelas e portas todas completamente escancaradas. Quem sabe haja até uma placa no jardim com os seguintes dizeres: “Carolina, seja bem-vinda!” Não digo que espero por isso, porque nesse caso esperar não seria justo. Nunca foi. Por esta razão, continuo apenas tocando a minha vida, sem saber onde as bifurcações desta irão me levar. Porém, torcendo lá no fundo, com meu sorriso mais largo, pra que seja para um bom lugar.

Carolina Braga, 02 de ago. 12.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Na iminência do grande dia

Nos próximos dias estarei comemorando o meu ano particular nascendo novamente. Nesses últimos meses inúmeras coisas aconteceram: mudanças na rotina, eventos inesperados, projetos reavaliados e alguns suspensos. Chega a ser engraçado o modo como a vida vez por outra decide acontecer. Ela não está nem aí pro que você pensa a respeito dela ou de qualquer outra coisa, ela dita as regras e ou você se enquadra, ou você dança baby. Quando digo se enquadrar, não me refiro a se conformar ou algo do tipo, mas ao fato de você ter que às vezes também se render. Se render à realidade de que não temos o controle sobre absolutamente nada e que num piscar de olhos tudo, absolutamente tudo, pode mudar ou mesmo deixar de existir. A TV, a contemporaneidade e tudo mais tenta nos vender uma ideia ilusória de que somos deuses, donos de coisas que nem ao menos são palpáveis. Quão logo acordamos desse sonho de Alice, mais cedo as dores poderão começar a diminuir de intensidade e algumas feridas cicatrizarem. Aprendi muito, muito mesmo, nesses últimos tempos e essa é uma certeza que tenho desde quase sempre: eu tô aqui pra isso, pra aprender.  E assim vou seguindo, com uma bagagem superior a quantidade de anos que consta na minha certidão de nascimento e umas marcas de guerra, como diria uma amiga querida. Apesar de toda a dor e de toda a dificuldade que só podem ser mensuradas por esta que vos fala, não trocaria minha história por nenhuma outra. Pois nada se compara ao orgulho que sinto da pessoa que sou, acima de tudo, apesar de tudo. E isso não é pra qualquer um.

Carolina Braga, 01 de ago. 12.