sexta-feira, 24 de julho de 2009

Doçura


Ao longo de minha vida tenho atestado com clareza e convicção de que não há nada mais difícil de preservar do que a doçura em nosso coração. Até mais que a integridade, porque provavelmente seja esse açúcar que a sustente e alimente. Decerto não é uma tarefa das mais fáceis, porém, mais penoso que isso só mesmo conceber uma vida baseada em dias nublados e açucareiros abarrotados de sal. Eu costumo dizer pro Deus que eu acredito que prefiro mil vezes a morte do corpo à do espírito. E viver sem doçura pra mim significa morrer todos os dias. Morrer pro sol, pro azul, pro sorriso. Morrer pra vida, em sua mais cruel acepção. Perder a doçura implica em sentir um gosto insuportavelmente amargo em tudo que experimentamos. Resgatá-la constantemente significa ter o bônus de nossa sobremesa favorita todo dia.

Carolina Braga
[hoje]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ele


Silêncio. Essa é a denominação do hiato que existe entre uma palavra e outra. O intervalo entre uma pergunta e uma resposta. Entre uma espera e uma sentença. Entre uma tentativa e uma frustração.
Há quem se angustie com ele. Há quem só obtenha a verdadeira paz através deste. Apesar da ausência de palavras, muito se pode dizer com ele. Muito se pode entender por ele.
Há quem o tema. Há quem o persiga constantemente, mesmo em meio a um turbilhão de gritos sem sentido. Há quem nunca tenha experimentado como é estar a sós com ele e por isso se julgue demasiado popular. E há quem já compreendeu que este pode ser vez ou outra a melhor companhia e até a única possível.

Carolina Braga
(agora)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Como se deve


Sim, eu falo demais. Sempre fui assim e acho difícil um dia mudar isso. E o engraçado é que falo em demasia não para ser entendida, mas provavelmente para confundir ainda mais – a quem pensa que me entende e a quem acredita poder me julgar baseado nesse suposto conhecimento. Na verdade, quem fala mesmo é meu silêncio. Ah, e como ele fala! Mas ninguém ouve – ou quase ninguém. É estranho, ver tanta gente fazendo teorias acerca de quem é você, enquanto que nem de longe conseguem conceber o que se dá em sua epiderme. Porque a dor é minha. As vitórias? Minhas. Choro, grito, perda, erros, ganhos, tudo – só meu. Não adianta você me dizer que entende, pois você não faz a mínima idéia. É assim com todo mundo. Todos, no final das contas, somos um. Ou seja, unidade. Cada qual sabe de si, responde por si, ganha, perde e sofre por si - sozinho. Sim, s-o-z-i-n-h-o (a). Quanto mais cedo aceitamos essa realidade, mais cedo passamos a encarar a vida como se deve. Com verdade e coragem. As mãos que lhe são estendidas? Ajudam. Mas ninguém pode caminhar por você. Ninguém pode viver por você. Ninguém.

Carolina Braga, agora.