segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Você, para sempre


Lembro de você sorrindo a todo momento, mesmo sem motivo aparente, como que zombando dessa vida que tantas vezes insiste em nos fazer chorar e desacreditar que existe o bom e que amanhã tudo pode mudar. Lembro de você sempre, despretensiosamente, realizando grandes feitos, desses que só uma alma grande pode realizar. Lembro de você com sua maladragem pueril, desse menino que esqueceu de crescer e que se negava a aprender a malícia dos mais velhos. Lembro de você, de você que eu não posso mais ver com esses olhos que tantas vezes encontraram os seus, mas que eu posso enxergar toda vez que me volto para o meu coração. Lembro de você que eu não posso mais sentir o calor da pele, mas que até hoje toca fundo em minha alma, a cada simples lembrança. Lembro de você. Todos os dias. Sempre. E nesses momentos, eu nunca me sinto só.

Carolina Braga, 16 de dez. de 09.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sem pressa

O amor pede calma. Pede uma pausa, uma trégua. Um momento de silêncio, de simples e terna apreciação. Ele quer sim ser visto, sentido, mas para isso ele quer antes seu amigo - seu melhor amigo. Pois não gosta de guerra, de malquerência, coisas do tipo. Nem muito menos sobrevive em relacionamentos de pessoas que acreditam conhecê-lo, mas que apenas o utilizam como pretexto para fins que o próprio amor desconhece por inteiro.
Amor exige profundidade, ele não sobrevive na supercialidade. É preciso ter fôlego para chegar ao fundo e coragem para assumir os riscos que são muitos, mas que de certo, não são maiores do que aqueles assumidos por quem se entrega ao vazio. Só o amor, de fato, preenche todos os espaços. Só o amor nos rouba o ar, para nos devolver a vida. Só amor é capaz de suprir a carência nunca antes suprida, porque em sua fonte brota aquilo que não conhece medidas.
Não espere que ele se apresente à você realizando alegorias em cima de um grande palco, o amor não é dado a esse tipo de vaidade. Experimente sim olhar para o lado e quem sabe tenha a sorte de surpreendê-lo com um sorriso nos lábios. Por que o amor é assim, leve e sereno, como tudo aquilo que não tem pressa, pois chegou para ficar.

Carolina Braga, 12 de nov. de 09.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre o pó da sua sala


Você já parou para pensar sobre o que anda falando por aí? Exemplifico: quantas vezes por dia você se prontifica a fazer uma observação positiva em relação ao outro e quantas vezes se propõe, em relação ao mesmo, a tecer comentários negativos e que nada edificam? Andei pensando e observando acerca disso nos últimos dias e fiquei espantada com o que vi e ouvi. Nossa!... Como existe gente por aí se autointitulando juiz da vida de seu próximo, enquanto que possui coisas sem fim pra resolver no que diz respeito a própria vida. Enxergam o pó no móvel do seu vizinho e nem se dão conta de limpar o tapete da própria sala, que de tão empoeirado já mudou de cor.
Sempre foi da minha natureza apreciar o que é bonito e eu acho bacana compartilhar isso. Tem gente que considera essa minha característica meio esquisita, fora de moda até. Ao olhar a minha volta não é difícil entender porquê. Vejo pessoas apontando o dedo na cara de outras, dizendo a estas o quê e como fazer, quando na realidade elas mesmas nem sabem para onde correr. Ou melhor, nem têm. Pois, também ao se autointitularem donas da verdade e senhoras da perfeição, passaram a considerar todo o resto do mundo indigno de sua solitária companhia. Enfim, eu particularmente prefiro gente esquisita como eu, que gosta de si mesma, incluindo suas mais grotescas imperfeições. Gente que considera inútil e sem graça todo esse apelo desesperado a essa ideia forjada de perfeição. Gente de carne e osso, que cheira mal quando está precisando tomar banho, mas que considera ainda mais repulsivo o odor de quem transpira a tanta hipocrisia.

Carolina Braga, 26 de out. de 09.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Enxergar


Idealização. Palavra que se conjuga no verbo idealizar, que vem de ideia. Ideia é tudo aquilo que só é permitido existir dentro da nossa cabeça. Aqui fora, só é concebível o que é real, ou seja, o que pertence a realidade. Aquilo que é real é palpável, tem gosto (seja amargo ou doce), cheiro (agradável ou não), cor (ainda que não seja a nossa favorita). É lugar-comum as pessoas confundirem e trocarem uma coisa pela outra, é ainda mais costumeiro gente confundir e trocar gente por ideia. Não é algo lá muito salubre nem vantajoso, mas acontece, todos os dias, em todos os lugares. A meu ver, não é salubre porque sempre que incorremos nesse erro nos frustramos e a responsabilidade dessa frustração cabe simplesmente e somente a nós mesmos, que perdemos a oportunidade de, ao invés de imaginar o outro, de fato, enxergar o outro. Não é vantajoso porque ao perder a oportunidade de enxergar o que realmente se apresenta diante de nós, nos privamos de presenciar algumas vezes verdadeiros milagres, como flores que nascem em meio a incontáveis espinhos e ricos mananciais que sobrevivem em meio a desertos severos.
Eu, ironicamente, tenho dado pra acreditar com maior intensidade em milagres, simplesmente porque deixei de imaginá-los e passei, de fato, a enxergá-los.

Carolina Braga, 25 de out. de 09.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Sobre aquilo que você não sabe


Sabe, eu sempre fui uma criatura voluntariosa. Bastante, diga-se de passagem. É do meu signo, do meu nome, do meu sangue. Eu sempre quis tentar fazer com que as pessoas parecessem um pouco, com aquilo que eu julgava como o melhor para elas, e, é claro, para mim. Eu sempre busquei também dar o melhor de mim, tentando sozinha resolver todos os meus traumas e do resto do mundo. Generosidade? Arrogância? Tanto faz. Nâo importa o nome que se dê, isso não altera nada. E eu já aprendi, que na balança da vida, os pesos e as medidas se misturam; tudo é relativo, pois tudo é circunstancial.
Não estou aqui requerendo nenhum tipo de absolvição, nem para dizer que se pudesse faria tudo diferente. Eu simplesmente não faria; e não farei. Não faria por que antes eu não sabia o que agora sei e não farei, porque o pretérito é um verbo que só se cunjuga no papel, no máximo na mémoria.
E o que hoje sei é que eu não sei de nada - ou quase nada. Que a vida se torna mais leve e fácil quando nos permitimos frágeis, errantes, humanos. Quando somos capazes de enxergar a rara beleza que reside na imperfeiçâo. Aceitar. Acho que essa é a palavra. Aceitar as limitações do outro e as nossas próprias; aceitar que nada deve ser como pensamos e que talvez nunca façamos ideia disso; aceitar que a maioria das pessoas jamais serão aquilo que elas mesmas acreditam ser e que você não precisa partilhar desse mesmo engano, dessa mesma expectativa, dessa mesma frustração.
A princípio, pode parecer difícil, mas, na realidade, poucas coisas são o que parecem.


Carolina Braga, 23 de out. de 09.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

De tudo que sei


De tudo que amei. De tudo que represei. De tudo que calei. De tudo que gritei. De tudo que desejei. De tudo que abortei. De tudo que acreditei. De tudo que questionei. De tudo que quis. De tudo que fiz. De tudo que dei. De tudo que me foi roubado. De tudo que comprei sem ter experimentado. De tudo que não gostei sem sequer ter provado. De todas minhas dúvidas e certezas. De todos os meus não-saberes. De todos os meus medos ocultados. De todas minhas feridas rasgadas. De todas minhas cicatrizes que o seu olho não vê. De toda parte de mim que ainda não me foi revelada. De tudo que há por fora e por dentro. De tudo que em mim é movimento. De tudo que não vai nunca a lugar algum. De tudo que julguei ser verdade e era mentira. De todas as vezes que me enganei. De todas as vezes que falei por não saber dizer. De cada momento que calei para você poder me ouvir. De todas as coisas que não sei e jamais saberei. De tudo que penso saber e, na verdade, não sei. De todas as dúvidas que virarão certezas. De todas as certezas que se transformarão em poeira. De toda dor que, um dia, será alegria. De toda alegria que se findará em pranto. De tudo que não cabe num papel. De tudo que caneta não sabe escrever. De tudo que os livros não explicam. De tudo que não possui lógica. De tudo que em seu maior paradoxo é coerente. De tudo que todas as palavras jamais poderão transcrever. De tudo isso e mais um tanto. De muito, pouco, raso, fundo, frio, quente, azul e nublado. De todas as cores, de todos os tons, de todos os sons. Da música e do silêncio. Do divino que há no humano e do humano que há no divino. Sou o que o ontem fez de mim. Sou o que sou hoje. Amanhã, sou folha em branco.

Carolina Braga
[ hoje ]

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Eu quero mais!


Sabe quando você pára, pensa e não consegue encontrar sentido? Quando você se pergunta para onde mesmo estava seguindo, se caminhando sozinha você não poderia chegar onde queria. A idéia era uma caminhada a dois e não uma jornada dupla. Acho que você se confundiu. Eu já tenho meus fardos, meus pesares, meus traumas, continuar te carregando com todos os teus adendos seria pesado demais pra mim. E acredite apesar da pouca idade minha coluna já se encontra significativamente declinada. E não é por displicência de minha parte, é só a velha mania de bancar a heroína – de meus terrores e do resto do mundo. Acontece que agora eu dei pra experimentar o doce sabor de minhas imperfeições e limitações. Doce? Pois é. Me sentir e me aceitar mais humana tem me proporcionado um sabor novo em tudo, mais leve, mais interessante até. Sim. E eu quero mais!

Carolina Braga

[ agora ]

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A clitorectomia, eu e você


Você já ouviu falar em clitorectomia? Trata-se de uma prática arcaica e desumana praticada há vários séculos em comunidades tribais africanas e que encontrou apoio, melhor dizendo, cumplicidade na religião do profeta Maomé, ou seja, o Islamismo. Infelizmente, tendo em vista que essa é uma religião que possui adeptos nos cinco continentes, essa prática absurda há muito é realizada no mundo em que eu e você vivemos, o chamado Ocidente – leia-se: civilizado. A clitorectomia, fisicamente, tem por finalidade a extirpação do clitóris e dos lábios pubianos. Logo após, a criança é costurada sendo deixado apenas um pequeno espaço para que a mesma possa urinar. “Espiritualmente” falando, esse é um procedimento que visa tornar a mulher “pura”, como deve ser toda serva de Deus, no caso do Islamismo, toda serva de Alá. Isso, obviamente, sujeita a mulher a um legítimo estupro iminente e consentido. Talvez você que me lê deva pensar que eu esteja relatando algo que não existe e que se algum dia existiu, há muito foi extinto. Porém, para minha tristeza e profunda indignação, estudos revelam que todos os dias seis mil meninas em todo o mundo são sujeitadas a essa verdadeira barbárie. Nós, mulheres, sempre sofremos com a opressão e a segregação, mesmo silenciosa, de alguns homens e de alguns sistemas que nos julgam incapazes de nos desenvolvermos individualmente alcançando o sucesso, a independência e a realização pessoal-profissional. Até hoje, mesmo em países tidos como progressistas e desenvolvidos (financeiro e intelectualmente) mulheres que ocupam cargos e executam funções similares a de outros homens recebem salários inferiores; bem como, quando optam pelo direito de não vivenciar a maternidade ou constituir família são estigmatizadas e condenadas como pessoas sem princípios e sem coração. Muitas mulheres acabam tomando por certo o estigma de que ela é submissa, criando para si limitações das quais não possui e construindo grades invisíveis, porém, aparentemente intransponíveis. Sou completamente a favor da liberdade de expressão e de escolha de cada um, mas acredito que quando uma pessoa nunca teve a oportunidade sequer de decidir, simplesmente porque desconhece a natureza da palavra liberdade, é hora de intervir, catequizá-la e aí sim, oferecer a ela a possibilidade de escolher. Eu, particularmente, não consigo conceber uma sociedade, de fato, igualitária e defensora dos direitos universais em meio a tantos [pré]conceitos e má-vontade no que diz respeito ao outro – no caso, à outra. Fico me perguntando por quantas revoluções e por quantos séculos mais teremos que passar para que coisas assim deixem, enfim, de fazer parte de nossa história presente. A clitorectomia é só um sinal do quanto a ignorância e a hipocrisia nos torna a todos seres atrasados, tal qual, nossos antepassados primatas.

Carolina Braga
[ hoje ]

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A Lógica do Caos


A cada dia que passa me convenço de que as coisas nem de longe são como sempre me disseram. Nem de longe e muito menos de perto. Não existe essa de certo e errado, como se tudo fosse algo projetado, pensado e não sentido, vivido e pulsado. Nem sempre choramos porque estamos tristes, nem sempre sorrimos porque estamos felizes, às vezes acontece o inverso e às vezes acontece o que nós mesmos não compreendemos. Nem sempre nossas perguntas possuem respostas, nem sempre as respostas implicam em soluções. E é completamente inútil tentar entender a lógica de tudo, pois o mundo é a própria dinâmica do caos, enquanto que nós estamos simplesmente no olho do furacão. É mais acertado deixar a ventania passar para ver depois no que vai dar. Só assim poderemos saber, enfim, o que fazer com essa força que não controlamos, mas que por isso mesmo devemos usar sempre ao nosso favor. Como o barco a vela, que até em dias de maior tempestade não desvia de seu trajeto, nem uma só légua, nem por um decreto.

Carolina Braga, 31 de ago. de 09.

Fora de Ritmo


Há momentos em que a dor já não dói. De tanto que já sangrou, de tanto que já sofreu. Momentos em que nos vemos anestesiados diante dela. Entregues a esse cruel destino. Instante em que nem sequer conseguimos acompanhar o ritmo daquilo que nos cerca. É como se vivêssemos em outra dimensão e nada pudesse nos alcançar. Às vezes, tudo parece sem sentido, é como se você tivesse certeza que não faz parte de tudo isso. Que por mais que pareça tanto, pra você é muito pouco pra justificar sua presença nessa ciranda sem nexo, em que ninguém te convidou em que você nenhum contrato assinou. Oh, meu Deus, me diga: onde está a graça desse baile de máscaras?

Carolina Braga, 29 de ago. de 09.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Cadência


Assim como na comédia o grande segredo da vida é o ‘tempo’. Tudo tem o seu momento. Cada instante exige um movimento diferente. Um alcance, uma voz, um sentimento. Uma força que comande com perfeição cada emoção, cada vontade, cada verdade. Perder a hora significa muito mais que perder o trem, significa perder a viagem, a oportunidade. E não adianta se antecipar, o sol não nascerá antes só para lhe agradar e suprir sua eterna pressa que nem mesmo você sabe explicar. Não fique aí parado a esperar, mas também não precisa correr como se houvesse um pódio a alcançar. É só você e você. Mais ninguém. Não há competidores nem medalhas. Há sim a cadência da vida que, quando bem vivida, revela-se mais bela que a mais onírica das odisséias.

Carolina Braga
[ hoje ]

Tentativa vã


Do quê serve palavras que não alcançam o coração? Do que serve o abraço que não é preenchido de emoção? Você falou, me abraçou, sim, você tentou. Mas não deu. Não convenceu. Tentou me comprar com promessas vãs (as mesmas de sempre), quis me ludibriar depois de tanto me magoar. Você não sabe, a ferida criou casca, tão sólida que já não posso voltar a sangrar – não no mesmo lugar. A crença virou descrença, a ingenuidade, maturidade. Eu mudei, entende!? Ou melhor, nem tente. Você jamais foi capaz de me enxergar.

Carolina Braga
[ hoje ]

Não mais


Durante muito tempo eu esperei um gesto ou uma palavra que me fizesse acreditar que tudo valeu a pena. Todo o meu amor, minha paciência, minha compreensão e desprendimento em abundância a ti dedicados. Mas eu estava enganada, a sua alma era (é) sim pequena. Diante disso eu vi perder-se todo o sentido. Diante disso eu mesma me vi perdida. Há tantas coisas que se eu pudesse teria feito diferente, mas não sei, talvez não existisse mérito nisso. Você me deixou vazia, sugou-me o quanto pode e mais do que eu imaginava ter para dar. Não à toa o que havia de ti em mim findou e eu nem tenho o que lamentar. Para quê cultivar sobras de um sentimento não desejado? O mundo já está suficientemente abarrotado de desperdícios. Eu poderia te dizer muitas coisas, acontece que você não merece nem uma só palavra.

Carolina Braga
[ ontem ]

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Certezas demais


Sempre declararam sentir muita certeza e segurança em mim. Eu, até bem pouco tempo atrás julgava isso como algo bacana – tanto pra mim, como pra quem nutria esse sentimento. Julgava... Não sei, acho que certezas demais não fazem bem pra ninguém. Pra quem as transmite por ser muito cobrada por isso, pra quem as sente porque às vezes, sem perceber, abusa da coisa. Pois é, quanta coisa não fazemos sem perceber. Quantas coisas perdemos sem perceber. E sem perceber vamos causando feridas que por não serem sabidas são mais sofridas. Mas aí já foi, né. Cada um com sua dor, com seu carma, com seus traumas. Cada qual com suas escolhas. Me deixa então com as minhas e fica com a única certeza que posso agora te fornecer: pra você, eu sou dúvida, tá?

Carolina Braga
{agora}

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Doçura


Ao longo de minha vida tenho atestado com clareza e convicção de que não há nada mais difícil de preservar do que a doçura em nosso coração. Até mais que a integridade, porque provavelmente seja esse açúcar que a sustente e alimente. Decerto não é uma tarefa das mais fáceis, porém, mais penoso que isso só mesmo conceber uma vida baseada em dias nublados e açucareiros abarrotados de sal. Eu costumo dizer pro Deus que eu acredito que prefiro mil vezes a morte do corpo à do espírito. E viver sem doçura pra mim significa morrer todos os dias. Morrer pro sol, pro azul, pro sorriso. Morrer pra vida, em sua mais cruel acepção. Perder a doçura implica em sentir um gosto insuportavelmente amargo em tudo que experimentamos. Resgatá-la constantemente significa ter o bônus de nossa sobremesa favorita todo dia.

Carolina Braga
[hoje]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ele


Silêncio. Essa é a denominação do hiato que existe entre uma palavra e outra. O intervalo entre uma pergunta e uma resposta. Entre uma espera e uma sentença. Entre uma tentativa e uma frustração.
Há quem se angustie com ele. Há quem só obtenha a verdadeira paz através deste. Apesar da ausência de palavras, muito se pode dizer com ele. Muito se pode entender por ele.
Há quem o tema. Há quem o persiga constantemente, mesmo em meio a um turbilhão de gritos sem sentido. Há quem nunca tenha experimentado como é estar a sós com ele e por isso se julgue demasiado popular. E há quem já compreendeu que este pode ser vez ou outra a melhor companhia e até a única possível.

Carolina Braga
(agora)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Como se deve


Sim, eu falo demais. Sempre fui assim e acho difícil um dia mudar isso. E o engraçado é que falo em demasia não para ser entendida, mas provavelmente para confundir ainda mais – a quem pensa que me entende e a quem acredita poder me julgar baseado nesse suposto conhecimento. Na verdade, quem fala mesmo é meu silêncio. Ah, e como ele fala! Mas ninguém ouve – ou quase ninguém. É estranho, ver tanta gente fazendo teorias acerca de quem é você, enquanto que nem de longe conseguem conceber o que se dá em sua epiderme. Porque a dor é minha. As vitórias? Minhas. Choro, grito, perda, erros, ganhos, tudo – só meu. Não adianta você me dizer que entende, pois você não faz a mínima idéia. É assim com todo mundo. Todos, no final das contas, somos um. Ou seja, unidade. Cada qual sabe de si, responde por si, ganha, perde e sofre por si - sozinho. Sim, s-o-z-i-n-h-o (a). Quanto mais cedo aceitamos essa realidade, mais cedo passamos a encarar a vida como se deve. Com verdade e coragem. As mãos que lhe são estendidas? Ajudam. Mas ninguém pode caminhar por você. Ninguém pode viver por você. Ninguém.

Carolina Braga, agora.

sábado, 13 de junho de 2009

Cultivar


Verbo do dia: cultivar. Segundo o Aurélio: “Procurar manter ou conservar.”
É aí que está a graça da vida de verdade, onde as coisas não vêem prontas e onde jamais estarão. Tudo o que existe hoje está em transição, em constante transformação. Você olha novamente e o que enxerga já está diferente, você já não é o mesmo. O mundo muda de lugar a todo o momento e ainda que você não esboce qualquer movimento o seu campo de atuação por si só já se modificou. Em meio a toda essa velocidade, a tantas alterações, preservar em nós o que nos sustenta nessa eterna gangorra de emoções é um grande trunfo. Preservar no outro o que existe de nós é um desafio diário; sobretudo, tarefa de beleza incalculável. Nos dias atuais onde quase tudo é passageiro, descartável e leviano cultivar sentimentos e relações genuínas tem se tornado um verdadeiro artigo de luxo, do qual, poucos estão dispostos a bancar. Pois é, em geral a qualidade cobra um valor elevado, porém, em troca ela nos oferece segurança, durabilidade e confiança. Parece-me um preço justo e é por isso que eu estou sempre disposta a pagá-lo.

Carolina Braga
[ontem]

terça-feira, 19 de maio de 2009

Minhas caixinhas de recordações


Organizando as tralhas. Ou melhor, me desfazendo delas. Ao menos das desnecessárias, já que de alguma a gente necessita pra se reconhecer em meio a tanto apelo à perfeição tardia. Muitas coisas estão indo para a lata do lixo. Poucas continuo a conservar em minhas caixinhas de recordações. Agora só carrego comigo o que pretendo levar pra toda a vida. Cansei de toda essa frivolidade relativa. De agora em diante só tem espaço na minha vida para o que é íntegro e verdadeiro. Não tô preocupada em ser agradável, simpática e educada para com gente de sorriso e coração amarelo. Minha existência não tem por razão de ser enfeitar tuas páginas na internet, nem teu ego insaciavelmente vazio. Sabe que tenho me sentido mais leve!? Pois é. Incrível como quando canalizamos eficientemente nossa energia tudo passa a se mover e acontecer de maneira tão mais sadia e bonita. Então, o espelho tem sido mais generoso comigo. E não só aquele que fica fixado na parede, mas também aquele em que nos enxergamos nas pessoas que de fato nos são recíprocas – a elas chamamos amigos. Eu já nem avalio mais se existe merecimento nisso, eu simplesmente vivo. Eu que sempre fui dada a esmiuçar porquês sem fim tenho aceitado inúmeras coisas com uma resignação que eu jamais pensei ser possível se dar em mim. Engraçado, a vida pede de nós tão pouco e a gente por vezes inventa de se ater a minúcias tão sem sentido por puro orgulho ferido. Só sei que desde que deixei essa montanha de inutilidade pelo caminho a estrada ficou mais fácil de trilhar. Mais fácil, mais larga e sem tantos obstáculos pro que me faz de fato feliz.

Carolina Braga, 19 de maio de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Medo teu, medo meu




Você segurou firme a minha mão e por diversas vezes, de inúmeras maneiras, me jurou eternidade em seu sentimento. Olhou-me fundo, daquele jeito que só a alma alcança como que para dar segurança e só o que me restou foi aceitar com alegria e esperança essa aliança. Você me amou, eu sei, e quer saber, também sei que teu olhar ainda hoje te trairia e me revelaria o que já há algum tempo seu silêncio insiste em me negar e me furtar. Por quê? Por que tanto medo de ti, de mim, de nós? Eu já não te disse que eu também sinto medo? Então, mais um motivo pra você não largar a minha mão – nem eu a tua; nunca. Sim, baby, eu ainda te amo.
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Carolina Braga, 12 de abril de 09.
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domingo, 5 de abril de 2009

Utopia? Não queridos. Empírico.


“Por que que para ser feliz é preciso não saber [?].” Ouvi há pouco essa certeira citação de Fernando Pessoa e não resisti à tentação de fazer a minha acepção. É incrível como em quantos significados e sentidos distintos ela pode se enquadrar. Há pessoas que, por exemplo, são felizes a vida inteira sem saber e que ainda por cima fazem questão de vestir com convicção a camisa da ignorância – e melhor ainda, com um casaco de uma infelicidade inventada para acompanhar, que é pra não restar sombra de dúvida, é claro. Medo. Covardia. Essas são só algumas das justificativas, motivos, máscaras, ou seja, lá como você queria a isso denominar. Há também aquelas que só pra sacanear vieram ao mundo como que para zombar desse respeitado poeta e dizer: ‘Mas como assim, eu sou feliz e sempre soube disso. ’ Aí, você que me lê deve tá se perguntando: Mas quem disse que é possível alguém ser feliz a vida inteira? E como assim não saber? Como assim, saber? Talvez você não tenha nenhum desses questionamentos. Talvez tenha outros. Não sei e possivelmente não saberei – ou não. Mas eu posso falar por mim e sim, é possível ser feliz a vida inteira. Sim, você pode ser feliz, saber e continuar sendo, mesmo depois de descobrir o que praticamente todo mundo que você conhece estranhamente busca te fazer não enxergar. Falo aqui da coisa mais temida e desejada que já pode um dia ser inventada: a felicidade. Pelo menos, me refiro a felicidade que eu encontrei e concebo. E ela nada tem a ver com os comerciais de margarina. Ela é cheia de sorrisos sim, mas, sobretudo, plena de vida. Leia-se vida como lágrima, incerteza, abraço, beijo, a saudade de algo que nunca nos aconteceu, a falta de memória para o que na partida se perdeu e todas as infinitas coisas que compreendem esse universo que reside lá fora e aqui – aí – dentro. Desde que eu encontrei a semente dessa felicidade e, melhor, descobri que quando plantada e cultivada com primor ela poderia me fornecer frutos nos dias todos de minha vida, que eu não passo um dia sequer sem experimentar de seu sabor. Paladar esse que sempre se renova e se supera em excelência, sem jamais perder a sua essência. Não é feliz quem ri de qualquer coisa, isso é ser tolo. Ser feliz é muito mais do que isso, muito mais do que apenas sorrir. Ser feliz é ter olhos, coração, alma e sentidos todos abertos para receber o que a vida tem a nos oferecer e encontrar em meio a tudo isso um motivo maior para agradecer por estar vivo e ver ainda mais intenso o desejo de um novo amanhecer. Utopia? Não queridos. Empírico.

Carolina Braga, 01 de abril de 09.
PS: Especialmente para Mary! Grata pela sensibilidade e assiduidade viu? Deus te abençõe sempre! Amém.

sábado, 4 de abril de 2009

Adeus e ponto


Sim. Essas malas que você vê são suas. Você mesmo as arrumou, não lembra? Muito gentil esperou que eu desse o veredicto. Deixou para mim a incumbência de pronunciar a palavra derradeira. Então, lá vai: ‘ – Adeus. ‘ Só isso? Sim; pra quê mais? Não, não. Não se dê ao trabalho de responder e me poupe de qualquer espécie de discurso. É adeus e ponto. Não resta mais nada a ser dito ou feito quando o laço já foi desfeito.

Carolina Braga, 29 de mar de 09.

sábado, 28 de março de 2009

Dor


Qual a dor que mais dói? Haverá uma resposta precisa para essa pergunta? Creio que não. Nunca há. Especialmente quando falamos de sentimento e pesar, medidas tão particulares, tão próprias de cada um. Há os que dizem que a dor fortalece. Há quem a credite um valor exclusivamente espiritual, contemplando o corpo como apenas um depósito de resquícios de males absorvidos e problemas mal resolvidos. Existe a dor que nunca passa. Existe aquela que nos pega de súbito e nos esmaga, deixando em pedaços a alma. Há vários tipos de dor e intensidade. Há várias promessas de cura e paliativos sem número. Porém, do que mais sinto falta é de uma resposta exata para a seguinte indagação: quanto tempo dor; quanto tempo mais para cumprires com o teu labor?

Carolina Braga, 27 de mar de 09.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O que é o amor


Quando eu era criança eu pensava que o amor era dizer eu te amo. E que todo mundo que o fazia era verdadeiro, e como tal, cada uma dessas três palavrinhas era convite para poesia. Eu fui crescendo e descobrindo que as coisas não eram assim tão simples e pueris. E que não são as palavras que oferecem legitimidade ao sentimento, mas o contrário. Aprendi que nem sempre as pessoas são genuínas no que dizem e que há muitas outras que privam os que lhe cercam do que elas possuem de melhor. Cada qual adota para si um estilo de vida que, no final das contas, é baseado em sua crença sobre o amor. Há algum tempo que já não sou mais aquela criança, porém algo dela para sempre em mim ficou. Até hoje levo comigo a certeza de que esse sentimento é o que há no mundo de mais sagrado e o melhor que pode existir em cada um de nós. Já deixei de ofertá-lo a quem merecia; bem como já o ofertei a quem o banalizou. Cheguei até a guardá-lo somente em meu peito com receio de torná-lo algo ordinário. E foi quando eu entendi, enfim, que só aprendemos o que é o amor quando nos permitirmos amar, e isso implica nos doar. E porque não dizer também, nos conceder o direito de errar.

Carolina Braga
* Ontem *

sábado, 14 de março de 2009

Questão da vez


Eu vejo você aí pedindo a minha mão e eu sem saber como te guiar através dessa escuridão. Você parece tão inofensivo, e eu me sinto ainda mais frágil e impura diante de tanta doçura e boa vontade com tudo. Quem sabe você não pode me ensinar a caminhar [?]. É que eu tenho o mau hábito de viver a dar topadas. Qualquer pedrinha no meu caminho é o bastante para uma nova cilada. Porém, eu nunca caio. Paro e olho para trás como que dizendo para o entrave da vez: ‘Viu? Nem me derrubou. ’ Só falto fazer careta. É ridículo, eu sei. Mas me deixa ser só um pouco menina, também. Não me furta o direito a essa [e]terna infantilidade. Tá, tá. Eu prometo que seguro forte a tua mão; mas promete me ajudar nessa questão? Qual?! A das topadas, cabeção! Aposto que já tinha esquecido, não é? Você sempre foi assim esquecido, eu que sou a que nunca esqueço de nada. Principalmente daquilo que nem era pra ter sequer existido. Não, não falo das pedrinhas, me refiro àqueles que a depositaram motivados por uma mórbida diversão.

Carolina Braga
[ Há pouco... ]
-
PS: Ouvindo 'Broken' - Norah Jones. ;]

quarta-feira, 11 de março de 2009

Muito barulho por nada


Nos últimos dias meus pensamentos resolveram falar mais baixo, como se não quisessem competir nem mesmo com o barulho de um vento mais forte. Tomaram por resolução só se manifestar diante do mais absoluto silêncio e eu que ando precisando me reconciliar com eles tenho sofrido de uma aversão involuntária ao mundo que me cerca. Barulho. Barulho. Barulho. Até redigir a palavra em questão me causa certa perturbação
O telefone toca. Passos no corredor. Vozes do lado de fora da casa. É o mundo dando sinais de sua existência estranha e eu me curvando a todo custo de ser mais uma mera figurante desse espetáculo, do qual, eu nunca comprei, nunca acreditei. Essa sou eu me negando a aceitar qualquer convite para uma mórbida diversão. Essa sou eu não aceitando fazer parte daquilo que não possui comigo qualquer conexão. É da minha natureza. Sempre fui assim voluntariosa, do contra como diriam alguns. Por que é assim que eu sinto a vida: com integridade e autenticidade. Não considero justo nem comigo nem com ela brincar de representar um papel a fim de servir exclusivamente de entretenimento alheio – para esse tipo de infantilidade eu jamais fui criança. Há as exceções é claro e elas existem simplesmente para tornar ainda mais legítima essa postura que de tão minha anda de mãos dadas até com a minha sombra.
Há alguns dias vivenciei um desses momentos exceção, caso que de tão isolado parece ter se passado em outra dimensão, com uma pessoa que definitivamente não era eu. Mas arrependimento pra quê quando retroceder implica apenas sofrer (?).
É preciso ter coragem para viver a vida de fato, meu caro. Ninguém jamais nos disse que seria fácil. Porém, quem sabe concebê-la com o mínimo de verdade não nos facilite o trabalho. (Quem sabe...).

Carolina Braga, 09 de mar de 09.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O milagre da vida


Certa vez uma amiga declarou acreditar em minhas escolhas por que ela sabia que no final eu sempre tomava partido pelo meu coração. Tenho constatado a cada dia com ainda mais clareza quão falha pode ser a razão e os elementos que a condicionam. E que as dúvidas que tantas vezes nos furtam a paz e a serenidade nada mais são que ilusões concebidas pelo nosso lado racional que insiste em não admitir se curvar àquilo que ele não pode explicar. Aquilo que ele desconhece por completo. Aquilo que foge a sua alçada. Para se enxergar além se faz necessário utilizar algo mais que o sentido da visão. É preciso ser coração. Não buscar entendimento, mas sim, compreensão. Antes de tudo é preciso estar aberto às verdades de um mundo paralelo que só pode ser revelado aqueles que aceitam a vida como ela é. Infinita. Misteriosa. Intensa até as últimas consequências. É a partir desse momento que os milagres se manifestam. Você só precisa acreditar.

Carolina Braga
[ hoje ]

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A criança que habita em mim


Todos possuímos uma criança dentro de nós que jamais cresce. Uma criança que tem medo do escuro e que pede proteção. Um ser pequenino que motiva aquele que possui responsabilidades e contas a pagar, a nunca deixar de sonhar. Uma doce criatura que nos ensina as lições mais importantes de nossa vida. É ela que zomba de nossa vaidade e suposta maturidade. É ela que nos dá colo quando a gente mais precisa e que alivia a dor de todas as nossas feridas. Essa criança só deseja um pouco de atenção, assim como o adulto, que vive enfiando os pés pelas mãos.
Carolina Braga
[ hoje ]

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O amor segundo Eva



- Eva, eu gosto de você.
- Mas Adão, gostar a gente gosta de qualquer coisa.
- Então, o que você quer de mim?
- Nada. Definitivamente nada que você possa me dar. Essa sua própria pergunta já anula qualquer possibilidade de resposta.
- Como ficamos então?
- Não ficamos. Tendo em vista que eu não aprecio o que é incompleto, terminamos essa relação que jamais teve início e meio, mas que desde sempre esteve fadada ao fim.
- Não me dá nem o direito de tentar?
- Mas você tentou, Adão. E eu fui testemunha de seu esforço. Porém, não se tenta amar alguém, ou ama ou não ama e ponto. Como o céu que já nasceu pronto.
- Se eu pudesse escolher eu teria amado você.
- Pois eu não. As escolhas da razão jamais alcançam o coração. Mas... Se eu pudesse de fato escolher, não teria amado você.
- A quem teria amado, Eva?
- A mim, Adão. Eu teria amado a mim.

Carolina Braga
[ Hoje ]

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Amor e verdade


Estava eu a discutir mais cedo com uma amiga acerca de nossos últimos casos de amor e amores em geral. O subtítulo da conversa: ‘Homens (pessoas) que gostam (ou até amam), mas não possuem coragem, nobreza e desprendimento necessários para vivenciar esse sentimento. ’ Eu, particularmente, prefiro mil vezes não ser desejada, a ter o desejo não manifesto de alguém. E não falo de palavras, isso nada tem a ver com palavras. Falo de cheiro, atitude, zelo. Não há nada mais covarde e pequeno do que um amor enjaulado e amestrado. Sentimento pra mim só tem verdade quando é capaz de romper os muros - medos - que o delimitam. Quando possui capacidade de burlar todas as regras desse ilusório romantismo largamente divulgado. Para mim a medida de um sentimento é dosada pela entrega de quem o oferta. Sem isso, só o que resta são idéias, devaneios de algo que só se conhece quando se vive. Concreta e literalmente falando.

Carolina Braga
[Hoje]

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Força estranha


Tenho falado muito em serenidade ultimamente e descobri que assim como a felicidade, este é um estado de espírito que não deve ser declarado efusivamente, correndo sério risco de perdê-lo. Parece-me que o que nos faz bem, ao mesmo tempo assume a importância de nossa maior fragilidade. É como se tudo a nossa volta conspirasse em favor de nos furtar o bem d’alma, atestar sua veracidade. E você fica ali, empenhada a fim de manter o equilíbrio dessas duas forças: a de dentro e a de fora. A que me rege costuma ser a primeira, mas vez por outra, humana que sou displicentemente escancaro portas e janelas e me vejo invadida e roubada por um evento – ou criatura – do mundo que existe fora de mim. Eu tento expulsá-lo - nem sempre funciona. Eu tento conviver com ele – idem. E quando me vejo sem alternativas, resolvo sair eu mesma e declarar paz no mundo de fora também. Em geral, queimam minha bandeira e a minha crença se vê testada mais uma vez. Aí o que ocorre? Ocorre que eu nasci com uma estranha força que me impele a seguir pela estrada menos indicada, que me leva a tomar resoluções tidas como utópicas e fora do padrão. Ocorre que vez por outra há quem me estenda à mão. Não há como fugir, essas duas forças sempre irão existir. A sua escolha consiste pura e simplesmente em optar por aquela que lhe conduzirá aonde deseja estar.


Carolina Braga, 22 de jan. de 09.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Em paz


Houve momentos em que eu esqueci de ir embora. Momentos em que protelei ouvir a verdade que me era dita, tornando a partida ainda mais sofrida. Eu fingi que não era comigo e perdi mais de mim do que um dia poderia permitir. E você foi embora sem ao menos dizer adeus, levando consigo algo que jamais poderá mensurar. E a solidão passou a fazer de mim a sua morada, o vazio próprio dos corações que amam por dois. A solidão virou saudade. Lembrança distante. Então eu pude voltar e trilhar o caminho que existia antes de ti e que eu não vi. Foi justamente ele que me levou de volta pra mim. Aqui comigo, eu vivo em paz.

Carolina Braga, 04.01.09


sábado, 3 de janeiro de 2009

Chegou...!


Pois é, 2009 chegou e veio com tudo – pelo menos pra mim. Os problemas continuam sendo os mesmos e as soluções também. Continuo com praticamente os mesmos sonhos, anseios, idade. O que muda então? Em teoria nenhuma mágica se realiza no instante em que o novo ano se inicia. Bem, em teoria, porque pra mim ela se realizou e transformou muitas coisas, tornou idéias que já me perseguiam há algum tempo em ações práticas, em frutos maduros. Terá sido o banho de mar com roupa e tudo? Terá sido a oração aos céus? Terá sido o que disse ao ‘cara lá de cima’ no momento da virada? Enfim, isso eu não sei e nem preciso saber, mas parece que de alguma maneira Ele me ouviu e não só isso, resolveu fazer acontecer a mudança que tanto meu espírito ansiava. E eis que agora ele volta a estar em paz. E eis que agora os medos foram embora. E eis que agora eu percebo que não preciso nem da metade do que pensava para ser feliz. Posso perceber no silêncio um atrativo que antes eu não sentia e em mim um refúgio e um aconchego que agora eu sei, jamais poderei encontrar igual em outro ser. As perguntas não mudaram de lugar, simplesmente deixaram de existir.

Carolina Braga, 03 de jan de 09