quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A clitorectomia, eu e você


Você já ouviu falar em clitorectomia? Trata-se de uma prática arcaica e desumana praticada há vários séculos em comunidades tribais africanas e que encontrou apoio, melhor dizendo, cumplicidade na religião do profeta Maomé, ou seja, o Islamismo. Infelizmente, tendo em vista que essa é uma religião que possui adeptos nos cinco continentes, essa prática absurda há muito é realizada no mundo em que eu e você vivemos, o chamado Ocidente – leia-se: civilizado. A clitorectomia, fisicamente, tem por finalidade a extirpação do clitóris e dos lábios pubianos. Logo após, a criança é costurada sendo deixado apenas um pequeno espaço para que a mesma possa urinar. “Espiritualmente” falando, esse é um procedimento que visa tornar a mulher “pura”, como deve ser toda serva de Deus, no caso do Islamismo, toda serva de Alá. Isso, obviamente, sujeita a mulher a um legítimo estupro iminente e consentido. Talvez você que me lê deva pensar que eu esteja relatando algo que não existe e que se algum dia existiu, há muito foi extinto. Porém, para minha tristeza e profunda indignação, estudos revelam que todos os dias seis mil meninas em todo o mundo são sujeitadas a essa verdadeira barbárie. Nós, mulheres, sempre sofremos com a opressão e a segregação, mesmo silenciosa, de alguns homens e de alguns sistemas que nos julgam incapazes de nos desenvolvermos individualmente alcançando o sucesso, a independência e a realização pessoal-profissional. Até hoje, mesmo em países tidos como progressistas e desenvolvidos (financeiro e intelectualmente) mulheres que ocupam cargos e executam funções similares a de outros homens recebem salários inferiores; bem como, quando optam pelo direito de não vivenciar a maternidade ou constituir família são estigmatizadas e condenadas como pessoas sem princípios e sem coração. Muitas mulheres acabam tomando por certo o estigma de que ela é submissa, criando para si limitações das quais não possui e construindo grades invisíveis, porém, aparentemente intransponíveis. Sou completamente a favor da liberdade de expressão e de escolha de cada um, mas acredito que quando uma pessoa nunca teve a oportunidade sequer de decidir, simplesmente porque desconhece a natureza da palavra liberdade, é hora de intervir, catequizá-la e aí sim, oferecer a ela a possibilidade de escolher. Eu, particularmente, não consigo conceber uma sociedade, de fato, igualitária e defensora dos direitos universais em meio a tantos [pré]conceitos e má-vontade no que diz respeito ao outro – no caso, à outra. Fico me perguntando por quantas revoluções e por quantos séculos mais teremos que passar para que coisas assim deixem, enfim, de fazer parte de nossa história presente. A clitorectomia é só um sinal do quanto a ignorância e a hipocrisia nos torna a todos seres atrasados, tal qual, nossos antepassados primatas.

Carolina Braga
[ hoje ]

2 comentários:

Mari disse...

A crueza desse ato é inquestionável. Não o desejo à minha pior inimiga. É a abominação do "ser mulher" e de toda nossa feminilidade. Sem palavras... Quantas mulheres morrem de infecção, e qtas morrem para a vida depois de um ato tao selvagem, o qual repudio sim, com tdas as forças...

Mas creio que tão grave quanto a clitorectomia física, seja a clitorectomia psicológica, disseminada por seitas, religiões, sociedades conservadoras e famílias repressoras, que querem privar-nos do exercício de ser mulher de forma holística, diante do machismo exacerbado de tantos homens e de tantas mulheres frustradas tanto quanto nos tornaríamos se assim o permitíssemos...

Muito bom o texto... [:)]

beijo grande!

Mari disse...

to esperando vc no meu humilde post "Abstrato"...rrsrs