segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre o pó da sua sala


Você já parou para pensar sobre o que anda falando por aí? Exemplifico: quantas vezes por dia você se prontifica a fazer uma observação positiva em relação ao outro e quantas vezes se propõe, em relação ao mesmo, a tecer comentários negativos e que nada edificam? Andei pensando e observando acerca disso nos últimos dias e fiquei espantada com o que vi e ouvi. Nossa!... Como existe gente por aí se autointitulando juiz da vida de seu próximo, enquanto que possui coisas sem fim pra resolver no que diz respeito a própria vida. Enxergam o pó no móvel do seu vizinho e nem se dão conta de limpar o tapete da própria sala, que de tão empoeirado já mudou de cor.
Sempre foi da minha natureza apreciar o que é bonito e eu acho bacana compartilhar isso. Tem gente que considera essa minha característica meio esquisita, fora de moda até. Ao olhar a minha volta não é difícil entender porquê. Vejo pessoas apontando o dedo na cara de outras, dizendo a estas o quê e como fazer, quando na realidade elas mesmas nem sabem para onde correr. Ou melhor, nem têm. Pois, também ao se autointitularem donas da verdade e senhoras da perfeição, passaram a considerar todo o resto do mundo indigno de sua solitária companhia. Enfim, eu particularmente prefiro gente esquisita como eu, que gosta de si mesma, incluindo suas mais grotescas imperfeições. Gente que considera inútil e sem graça todo esse apelo desesperado a essa ideia forjada de perfeição. Gente de carne e osso, que cheira mal quando está precisando tomar banho, mas que considera ainda mais repulsivo o odor de quem transpira a tanta hipocrisia.

Carolina Braga, 26 de out. de 09.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Enxergar


Idealização. Palavra que se conjuga no verbo idealizar, que vem de ideia. Ideia é tudo aquilo que só é permitido existir dentro da nossa cabeça. Aqui fora, só é concebível o que é real, ou seja, o que pertence a realidade. Aquilo que é real é palpável, tem gosto (seja amargo ou doce), cheiro (agradável ou não), cor (ainda que não seja a nossa favorita). É lugar-comum as pessoas confundirem e trocarem uma coisa pela outra, é ainda mais costumeiro gente confundir e trocar gente por ideia. Não é algo lá muito salubre nem vantajoso, mas acontece, todos os dias, em todos os lugares. A meu ver, não é salubre porque sempre que incorremos nesse erro nos frustramos e a responsabilidade dessa frustração cabe simplesmente e somente a nós mesmos, que perdemos a oportunidade de, ao invés de imaginar o outro, de fato, enxergar o outro. Não é vantajoso porque ao perder a oportunidade de enxergar o que realmente se apresenta diante de nós, nos privamos de presenciar algumas vezes verdadeiros milagres, como flores que nascem em meio a incontáveis espinhos e ricos mananciais que sobrevivem em meio a desertos severos.
Eu, ironicamente, tenho dado pra acreditar com maior intensidade em milagres, simplesmente porque deixei de imaginá-los e passei, de fato, a enxergá-los.

Carolina Braga, 25 de out. de 09.