Relações de amor são as melhores, mas também as mais
delicadas. E me refiro a todos os tipos de amor: filo, eros, amigo... A última
costuma levar consigo uma responsabilidade que atribuímos a esta às vezes até
sem perceber: aliviar o peso de nossas outras relações e de nossa própria alma
e nunca, em nenhuma hipótese, ser peso ou motivo pra dor de cabeça. Como se o
amigo fosse uma espécie de anjo, que além de estar aqui para olhar por nós é um
ser divino e, portanto, no mínimo quase perfeito. Certa vez eu ouvi de uma
pessoa que tinha o dobro da minha idade, que a decepção de um amigo era a mais doía
porque era justamente aquela que não era esperada. Eu entendi instantaneamente o
que ela queria dizer com aquilo. Mas isso não é um absurdo? Como assim uma
pessoa que nunca irá nos decepcionar? A amizade é um grande presente do Cara lá
de Cima, não há dúvidas, mas esperar que essa prerrogativa de perfeição divina
se estenda a outro mero mortal como nós, já é pedir um pouquinho demais.
Particularmente tenho amigos incríveis, os melhores que alguém poderia ter – e sim,
eu sinto um imenso orgulho em poder dizer isso. Mas o que possui de mais bonito
nessas relações é a abrangência do abraço que alcança as minhas, as nossas
imperfeições, como se tudo fosse precioso, simplesmente porque faz parte do que
somos. Amar alguém verdadeiramente, ser amigo, talvez seja justamente isso:
fazer do outro a nossa casa em tempos de tempestade, mas sem esquecer jamais de
reconhecer a sacralidade desse lar, sem esquecer jamais de bater antes de
entrar e de tirar as sandálias ao nela adentrar. É ser colo, é ser às vezes até
pai e mãe por alguns instantes, é ser família sem laço sanguíneo, é ser amor que
ama e que por isso, perdoa e aceita, e recebe, e devolve. Simples assim? Está
longe de ser simples. Mas com a prática a gente melhora e o esforço sempre vale
a pena.
Carolina Braga, 20 de ago. de 12.