Passei a infância bebendo litros e mais litros de suco de
manga. Era só vê-lo sobre a mesa que meu rosto se iluminava como se avistasse
um pote de ouro, que me faria afortunada de um sabor que era único para mim.
Hoje passo tranquilamente sem essa 8ª maravilha da minha infância, na verdade,
passo de super bom grado. Não me apetece mais.
Costumava até poucos anos me intitular como uma chocólatra assumida.
Não tinha vergonha do meu vício e não me privava de saciá-lo um dia sequer.
Durante um período tive que por recomendação médica suspendê-lo por alguns
meses. E, pois num é que a sua privação compulsória me libertou de sua
dependência. Hoje em dia, até como, até gosto, mas vivo sem também.
Eu sempre pensei que nunca conseguiria tomar a decisão de
dizer um adeus livre e sereno para alguém que eu amasse e que não estivesse
morto ainda em matéria. Foram tantos os suicídios exclusivos para mim, tantas
as ausências e tão numerosas as tentativas por parte de algumas pessoas de viver
feito zumbi ao meu lado, que acabei aprendendo uma lição deveras importante: eu
posso sim muito bem abrir mão da presença de alguém que amo, o que não posso mais
é viver sem me amar antes de tudo e de toda e qualquer criatura. E esse verbo
amar para mim inclui coisas que parecem não fazer parte do pacote para algumas
pessoas, como por exemplo: respeito, gentileza, generosidade. E dessas coisas
já não abro mão. Por nada nem por ninguém.
Tenho esquecido o telefone por aí no silencioso, não tenho
mais me explicado e justificado como antes. Poucos têm sido meus interesses no
que diz respeito ao mundo lá fora. Simplesmente porque a vida aqui dentro está
mais intensa do que nunca. E eu, finalmente, encontrei um jeito de ser intensa sem
ser autodestrutiva.
Carolina Braga, 21 de nov. de 12.