sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Eu e o medo


Até bem pouco tempo atrás eu não imaginava como essa violência impressa no jornal de todo santo dia e utilizada como atração de circo em programas diversos seria na vida real. Não suspeitava nem de longe como ela doía e retraia. Eu andava por aí com minha calça de marca e bolsa cara com a certeza de que estava imune e que o medo não combinava comigo. Até que um belo dia tive meus pertencentes furtados: a calça de marca(preferida), o perfume que ganhara horas antes de minha mãe, a rasteira(favorita), documentos, cartão de crédito, carteira novinha, chaves e outras coisas que não vou lembrar agora. Nesse tempo também perdi o emprego que nunca tivera, nesse tempo também perdi um pouco da saúde que já estava debilitada e subtraída. Quer maior violência que essa? Pois eu tenho uma: há pouco mais de duas semanas perdi um amigo, um amigo que teve sua vida arrancada de si, furtada com a mesma naturalidade de quem rouba um doce de uma criança. E eu que estava sensibilizada horrores com o seqüestro de uma menina que eu nem sequer conhecia, eu que andava com um pressentimento ruim, senti na pele, na alma e no coração todo o pesar e o luto dessa violência que mudou meu jeito de olhar o mundo, que mudou meu jeito de portar-me com a vida e ampliou a minha limitada percepção da realidade dos fatos. Agora não saio mais despreocupada nem me achando invencível e intocável, agora eu saio sem saber se volto. Agora eu sinto medo.

Carolina Braga (agora)

PS: No meio da tarde minha mãe sofreu uma tentativa de assalto.

Um comentário:

Anônimo disse...

bacana esse texto de uma sensibilidade acuradíssima e realmente como termos a garantia de sair e sabermos se voltaremos?


bju